Vanitas vanitatum,
et omnia vanitas...(Ecc.,I,2)
Disse-me o Espelho: Como estás mudada!
Teus olhos que eram sóis antigamente
põem hoje, em tua face, a luz cansada
de uma lâmpada doente...
Tua boca, mais fresca que uma fonte,
murcha em teu rosto diáfano de cera,
como uma flor que vai beijar a fronte
da terra em que nascera...
Esse fio de luar, que ora aparece
por entre teus cabelos escondido,
é da alva estriga com que a morte
tece teu último vestido...
Em tua mão de porcelana clara,
teus dedos finos vão tomando o jeito
dos dedos feitos simplesmente para
cruzar-se sobre o peito...
Disse-me:
E eu louca! sem pensar, ergui-o
na ponta alucinada de meus braços,
e arremessei por terra o vidro frio,
que se fez em pedaços.
Depois, num gesto de salgueiro e pluma,
sobre eles debrucei-me;
e vi- que , em cada pedaço,
a imagem, que era apenas uma,
ficou multiplicada.
Guilherme de Almeida/Livro de Horas1928
"No fundo de tudo há a aleluia." (Clarice Lispector)
sábado, 4 de julho de 2009
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Precioso.
ResponderExcluirUma fiel reproducción da morte mesma, facendo um desenho da ultima imagem.
Beijos.