"No fundo de tudo há a aleluia." (Clarice Lispector)
quarta-feira, 30 de março de 2011
sábado, 19 de março de 2011
terça-feira, 15 de março de 2011
VERDADE
A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade,
E a sua segunda metade
Voltava igualmente com meios perfis
E os meios perfis não coincidiam verdade...
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta,
Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual
a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela
e carecia optar.
Cada um optou conforme
Seu capricho,
sua ilusão,
sua miopia.
Carlos Drummond de Andrade
domingo, 13 de março de 2011
Espiral
A maioria da gente enferma de não saber dizer o que vê e o que pensa.
Dizem que não há nada mais difícil do que definir em palavras uma espiral: é preciso, dizem, fazer no ar, com a mão sem literatura, o gesto, ascendentemente enrolado em ordem, com que aquela figura abstracta das molas se manifesta aos olhos.
Mas, desde que nos lembremos que dizer é renovar, definiremos sem dificuldade uma espiral:
é um círculo que sobe sem nunca acabar-se.
A maioria da gente, sei bem, não ousaria definir assim, e supõe que definir é dizer o que os outros querem que se diga, que não o que é preciso dizer para definir.
Direi melhor: uma espiral é um círculo virtual que se desdobra a subir sem nunca se realizar.
Mas não, a definição ainda é abstracta.
Buscarei o concreto, e tudo será visto:
uma espiral é uma cobra sem cobra enroscada verticalmente em coisa nenhuma.
(Livro do Desassossego/ Bernardo Soares
sábado, 12 de março de 2011
“Desejo de ser é posterior ao desejo de tornar-se.”, frase lida que me faz perguntar:
“_Não seria ser uma continuidade dos elos de uma cadeia?”
Se assim é
o tornar-se se justifica:
Sou um tornar-se eterno: :
Ser é tornar-se.
A liberdade do vento
eterno tornar-se
não é o mesmo que
tornar-se eterno.
Por quê?
carmen cynira/ aqui e agora
terça-feira, 8 de março de 2011
sábado, 5 de março de 2011
INTIMAÇÃO
__Você deve calar urgentemente
as lembranças bobocas de menino.
__ Impossível. Eu conto o meu presente.
Com volúpia voltei a ser menino."
Carlos Drummond de Andrade / Boitempo