"No fundo de tudo há a aleluia." (Clarice Lispector)

domingo, 30 de setembro de 2007

FAREWELL AO GRANDE AMIGO

O SEGUNDO, QUE ME VIGIA.

O segundo, não o tempo é, implacável.
Tolera-se o minuto. A hora suporta-se.
Admite-se o dia, o mês, o ano, a vida,
a possível eternidade.
Mas o segundo é implacável.
Sempre vigiando e correndo e vigiando.
De mim não se condói, não pára, não perdoa.
Avisa talvez que a morte foi adiada
Ou apressada
Por quantos segundos?

FAREWELL, Carlos Drummond de Andrade.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Homenagem a João Proteti


Qualquer

Qualquer tempo é tempo.
A hora mesma da morte
É hora de nascer .

Nenhum tempo é tempo
Bastante para a ciência
De ver, rever.

Tempo, contratempo
Anulam-se, mas o sonho
Resta, de viver.

Drummond/ A Falta que Ama

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

O VERBO NO INFINITO



O VERBO NO INFINITO

Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar
Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar,
E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito
E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...

Vinícius de Moraes, 1960.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007



Memória

Amar o perdido

deixa confundido

este coração.

Nada pode o olvido

contra o sem sentido

apelo do Não.

As coisas tangíveis

tornam-se insensíveis

à palma da mão

mas as coisas findas,

muito mais que lindas,

essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade/ Claro Enigma