"No fundo de tudo há a aleluia." (Clarice Lispector)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

À Anita, com carinho.

A Bailarina

Cecília Meireles

Esta menina tão pequenina

quer ser bailarina.

Não conhece nem dó nem ré

mas sabe ficar na ponta do pé.

Não conhece nem mi nem fá

mas inclina o corpo para cá e para lá.

Não conhece nem lá nem si,

mas fecha os olhos e sorri.

Roda, roda, roda com os bracinhos no ar

e não fica tonta nem sai do lugar.

Põe no cabelo uma estrela e um véu

e diz que caiu do céu.

Esta menina

tão pequenina

quer ser bailarina.

Mas depois esquece todas as danças,

e também quer dormir como as outras crianças.


terça-feira, 24 de maio de 2011

24-05-2011 - 42 = 24-05-1969 / Ao Bê, com carinho e amizade desde sempre


O CONSTANTE DIÁLOGO

Há tantos diálogos

Diálogo com o ser amado
o semelhante
o diferente
o indiferente
o oposto
o adversário
o surdo-mudo
o possesso
o irracional
o vegetal
o mineral
o inominado

Diálogo consigo mesmo
com a noite
os astros
os mortos
as idéias
o sonho
o passado
o mais que futuro


Escolhe teu diálogo
e
tua melhor palavra
ou
teu melhor silêncio
Mesmo no silêncio e com o silêncio
dialogamos.

Carlos Drummond de Andrade.


quarta-feira, 18 de maio de 2011

Alberto Teixeira


São João do Estoril, Portugal, 1925.

O trabalho de Teixeira se caracteriza por uma busca interior. Assim, o artista escolheu o desenho e a pintura, pois estas linguagens lhe serviam como registro psicológico. Ao refletir sobre a arte, disse o artista: “a arte (...) é multiforme e em incessante evolução, em sempre renovados esforços para apreender a sua fugidia e complexa verdade, uma verdade que está e não está nas aparências e que diz respeito a algo que é ao mesmo tempo visível e invisível, material e espiritual” .

Naturalizado brasileiro, nasceu em Portugal, em São João do Estoril, em 1925. Estudou na Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa, de 1947 a 1950. Nesta época, sua obra era figurativa, fauvista e expressionista. Mudou-se para São Paulo em 1950, após uma viagem pela Espanha e França, vivendo nesta cidade até 1973, quando se transferiu para Campinas (SP). Foi aluno do Atelier Abstração entre 1952 e 1955, participando de duas mostras coletivas do grupo, em 1953 e 1955. Na época, influenciado por Flexor, se tornou abstracionista geométrico. Entre 1956 e 1958, viveu na Europa, onde teve contato com o abstracionismo lírico que, segundo Teixeira, correspondia mais à sua índole de artista, e que iria marcar todo o seu trabalho posterior.

Mário Schenberg escreveu sobre esta fase de Teixeira: “pintava grandes telas com um fundo monocromático de matéria modulada, sobre o qual sobressaíam manchas de outras cores e matérias. Essas telas criavam a sensação de envolvimento cósmico, carregado de interrogação e mistério” . Mais tarde, os efeitos de matéria foram substituídos por faixas de cor vibrante, que ao longo dos anos foram diminuindo, até se tornarem linhas. O artista também trabalhou nesta época com aquarelas sobre papel.

No início dos anos setenta se dedicou ao ensino, em diversas instituições, e aos estudos teóricos. Voltou a produzir nos últimos anos desta década, com alguns desenhos a lápis sobre folhas de jornal, unindo seu mundo interior à realidade histórica das notícias. Ao mesmo tempo, fazia desenhos mesclando o bico de pena à aquarela. Esta fase possui, segundo Mário Schenberg, a musicalidade de seu período abstrato geométrico, ao mesmo tempo em que mantém o mistério cósmico de suas obras abstratas expressionistas.

O artista participou das II, III, V, VII e VIII Bienais de São Paulo, e recebeu o 1º Prêmio Esso de Pintura, e o 2º Prêmio Leirner de Pintura.

Tatiana Rysevas Guerra
[bolsista]
Profa. Dra. Daisy V. M. Peccinini de Alvarado
[coordenadora do projeto