"No fundo de tudo há a aleluia." (Clarice Lispector)

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Há 105 anos nascia o Poeta

ETERNO

A cada instante se criam novas categorias de eterno.

Eterna é a flor que se fana
se soube florir
é o mesmo recém nascido
antes que lhe dêem nome
e que lhe comuniquem o sentido do efêmero
e o gesto de enlaçar e beijar
na visita do amor às almas

ETERNO É TUDO AQUILO QUE VIVE UMA FRAÇÃO DE SEGUNDO
MAS COM TAMANHA FORÇA QUE SE PETRIFICA
E NENHUMA FORÇA O RESGATA.

( em Fazendeiro do Ar – 1954)
*****
A HORA DO CANSAÇO
...


Do sonho do eterno fica esse gosto acre
Na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

( em Corpo, 1984)


terça-feira, 30 de outubro de 2007


Quando o amor é grande demais
torna-se inútil:
já não é mais aplicável,
e nem a pessoa amada tem
a capacidade de receber tanto.
Fico perplexa como uma criança
ao notar que
mesmo no amor
tem-se que ter bom senso
e senso de medida.
Ah, a vida dos sentimentos é extremamente burguesa.

Clarice Lispector/ A Descoberta do Mundo


segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Faz 30 dias....


...hoje de sua partida.
Homengem, cheia de saudade ao amigo ilustrador.
Dia Nacional do Livro
“... sou estimulado, por
memória instintiva a
procurar uma possibi-
lidade desconhecida,
alguma coisa que eu
não sou capaz de
expressar porque não
tenho idéia clara do
que é, mas que surge
ilusória, inatingível e
me leva a nadar todos
os dias em volta da
piscina, a explorá-la
incansavelmente... “

“Achilles/ Margareth Philips/
Ilustração e planejamento gráfico
de J.Toledo e Ana Stela Badaró/
Revisão de Conceição Arruda Toledo
e Lélia de Ulhoa Galvão/
Tradução do Inglês de Amaury A.Bueno
em colaboração com a autora.
1975

domingo, 21 de outubro de 2007

AONDA

"

... estagno entre um sono e a vigília
num sonho que é
UMA SOMBRA DE SONHAR.
Minha atenção bóia entre dois mundos
e vê cegamente
a profundeza de um mar
e a profundeza de um céu;
e estas profundezas interpenetram-se,
misturam-se,
e eu não sei onde estou
nem o que sonho.
Um vento de sombras sopra cinzas..."

Fernando Pessoa

" Na Floresta do Alheamento"




sábado, 20 de outubro de 2007

Depus a máscara e vi-me ao espelho.
Era a criança de há quantos anos.
Não tinha mudado nada...
É essa a vantagem de saber tirar a máscara.
É-se sempre a criança.
O passado que foi
A criança.
Depus a máscara e tornei a pô-la.
Assim é melhor.
Assim sem a máscara.
E volto à personalidade como a um término de linha.

Álvaro de Campos, 1934. Ficções do Interlúdio

domingo, 14 de outubro de 2007

AUSÊNCIA

Ausência

Subir ao Pico do Amor
e lá em cima
sentir presença de amor.

No Pico do Amor amor não está.
Reina serenidade de nuvens
sussurrando ao coração: Que importa?

Lá embaixo, talvez, amor está,
em lagoa decerto, em grota funda.
Ou? mais encoberto ainda, onde se refugiam
coisas que não são, e tremem de vir a ser.

(1968)


Ausência


Por muito tempo, achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade
(Boitempo/Corpo)
(1984)

sexta-feira, 12 de outubro de 2007



" A Vida é a hesitação entre uma exclamação e uma interrogação.
Na dúvida, há um ponto final"

Livro do Desassossego/ Fernando Pessoa