"No fundo de tudo há a aleluia." (Clarice Lispector)

domingo, 16 de fevereiro de 2014

arroz pra passarinho: DEU PANGO-SURUPANGO

arroz pra passarinho: DEU PANGO-SURUPANGO: DEU PANGO-SURUPANGO Uma velha tinha nove filhas, Todas a fazer biscoito; Deu pango-surupango numa delas E das nove ficaram, ...

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

segunda-feira, 16 de julho de 2007


“Foi no dia seguinte
que entrando em casa
viu a maçã solta sobre a mesa.
Era uma maçã vermelha,
de casca lisa e resistente.
Pegou a maçã com as duas mãos:
era fresca e pesada.
Colocou-a de novo sobre a mesa
para vê-la como antes.
Era como se visse
a fotografia de uma maçã
no espaço vazio.
Depois de examiná-la,
de revirá-la,
de ver como nunca vira
a sua redondez e sua cor escarlate
__ então devagar,
deu-lhe uma mordida.
E, oh Deus,
como se fosse a maçã
proibida do paraíso,
mas que ela agora
já conhecesse o bem,
e não só o mal como antes.
Ao contrário de Eva,
ao morder a maçã
entrava no paraíso.
Só deu uma mordida
e depositou a maçã na mesa.
Porque alguma coisa desconhecida
estava suavemente acontecendo.
Era o começo __
de um estado de graça.”

“Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres pag 146.

ESTADO DE GRAÇA



“Quem já conheceu o estado de graça reconhecerá o que vou dizer. Não me refiro à inspiração, que é uma graça especial que tantas vezes acontece aos que lidam com arte.

O estado de graça de que falo não é usado para nada. É como se viesse apenas para que se soubesse que realmente se existe. Neste estado, além da tranquila felicidade que se irradia de pessoas e coisas, há uma lucidez que só chamo de leve, porque na graça tudo é tão, tão leve. É uma lucidez de quem não advinha mais: sem esforço, sabe. Apenas isto: sabe. Não perguntem o quê, porque só posso responder do mesmo modo infantil: sem esforço, sabe-se.

E há uma bem-aventurança física que a nada se compara. O corpo se transforma num dom. E se sente que é um dom, porque se está experimentando, numa fonte direta, a dádiva indubitável de existir materialmente.

No estado de graça, vê-se às vezes a profunda beleza, antes inatingível, de outra pessoa. Tudo, aliás, ganha uma espécie de nimbo que não é imaginário: vem do esplendor da irradiação quase matemática das coisas e das pessoas. Passa-se a sentir que tudo o que existe – pessoa ou coisa – respira e exala uma espécie de finíssimo resplendor de energia. Na verdade, o mundo é impalpável.

Não é nem de longe o que mal imagino deva ser o estado de graça dos santos. Esse estado jamais conheci e nem sequer consigo advinha-lo. É apenas o estado de graça de uma pessoa comum que, de súbito, se torna totalmente real, porque é comum e humana e reconhecível.

As descobertas nesse estado são indizíveis e incomunicáveis. É por isso que, em estado de graça, mantenho-me sentada, quieta, silenciosa. É como numa anunciação. Não sendo, porém, precedida pelos anjos que, suponho, antecedem o estado de graça dos santos, é como se o anjo da vida viesse me anunciar o mundo.

Depois, lentamente, se sai. Não como se estivesse estado em transe – não há nenhum transe –, sai-se devagar, com um suspiro de quem teve o mundo como este é. Também já é um suspiro de saudade. Pois tendo experimentado ganhar um corpo e uma alma e a terra, quer-se mais e mais. Inútil querer: só vem quando quer e espontaneamente.

Não sei por quê, mas acho que os animais entram com mais freqüência na graça de existir do que os humanos. Só que eles não sabem, e os humanos percebem. Os humanos têm obstáculos que não dificultam a vida dos animais, como raciocínio, lógica, compreensão. Enquanto que os animais têm a esplendidez daquilo que é direto e se dirige direto.

Deus sabe o que faz: acho que está certo o estado de graça não nos ser dado frequentemente. Se fosse, talvez passássemos definitivamente para o outro lado da vida, que também é real, mas ninguém nos entenderia jamais. Perderíamos a linguagem em comum.

Também é bom que não venha tantas vezes quanto eu queria. Porque eu poderia me habituar à felicidade – esqueci de dizer que em estado de graça se é muito feliz. Habituar-se à felicidade seria um perigo. Ficaríamos mais egoístas, porque as pessoas felizes o são, menos sensíveis à dor humana, não sentiríamos a necessidade de procurar ajudar os que precisam – tudo por termos na graça a compensação e o resumo da vida”.


(*) FONTE: Lispector, Clarice, “Estado de Graça” in A descoberta do mundo, Ed. Rocco, 1999.
 Observação:Este texto também pertence  a " Uma aprendizagem ou o Livro dos Prazeres" / pag.146. O início já está no blog há muito tempo; o final , vou transcrevê-lo) Há também uma não apenas pequena diferença bem significativa.   A Descoberta do Mundo está em primeira pessoa, em" Uma Aprendizagem", quem fala é a personagem Lóri.



segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

arroz pra passarinho: DONA FELICIDADE

arroz pra passarinho: DONA FELICIDADE: DONA FELICIDADE Dona Felicidade é uma velhinha,                 Tão velha como o destino, Que mora numa velha capelinha         ...