"No fundo de tudo há a aleluia." (Clarice Lispector)

quarta-feira, 30 de maio de 2007


Continuo a achar...

...a cidade muito bonitinha.

Há passeios deliciosos à beira do rio

Aar. Se isso é nome de rio.
É um rio muito caudaloso,
muito sinuoso e brilhante.
Há um jardim zoológico e
se há uma coisa
que eu adoro
é ver bicho.
Só não tenho cachorro aqui
porque nunca mais terei cachorro,
para não ter que abandonar depois.
Seria infidelidade com Dilermando,
o pobre napolitano.
Enfim, a vida pode ser muito agradável aqui,
muito pacífica;
pode-se trabalhar,
passear,
e com um carro
conhecer a Suíça.
Naturalmente tem
dias em que
o coração está anuviado,
nem dias:
durante um só dia
tudo fica claro
e tudo fica escuro
e de novo
tudo fica claro.
O que é preciso
é não ir demais
contra a onda.
A gente faz
como quando
toma banho de mar:
procura subir
e descer
com a onda.
Isso é uma forma de lutar:
esperar,
Ter paciência,
perdoar,
Amar os outros,
e a cada dia
aperfeiçoar o dia.

Tudo isso está parecendo idiota...
Mas até que não é.”

(Berna, 12 de maio de 1946)

Olga Borelli /Clarice Lispector/Esboço para um possível retrato. Rio de Janeiro.Nova Fronteira. 1981 .
(Sinto-me levada ao rio de minha aldeia, com Fernando Pessoa...Carmen Cynira)

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