"No fundo de tudo há a aleluia." (Clarice Lispector)

terça-feira, 1 de maio de 2007


"Sou como estrangeiro.....

...em qualquer parte do mundo.
Eu sou do nunca.
Quando pequena eu rodava,
rodava e rodava em torno de mim mesma
até ficar tonta e cair.
Cair não era bom mas a tonteira era deliciosa.
Ficar tonta era meu vício.
Adulta eu rodo
mas quando fico tonta
aproveito de seus poucos instantes
para voar.
Acho que loucura é perfeição.
É como enxergar.
Ver é a pura loucura do corpo.
Letargia.
A sensibilidade trêmula
tornando tudo ao redor mais sensível
e tornando visível,
com um pequeno susto e impalpável.
Às vezes acontece
um desequilíbrio equilibrado
assim como uma gangorra
que ora está no alto
ora está no baixo.
E o desequilíbrio da gangorra
é exatamente
o seu equilíbrio."

Um sopro de vida: pulsações / Clarice Lispector
Rio de Janeiro: Nova fronteira, 1978.

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