"No fundo de tudo há a aleluia." (Clarice Lispector)

sábado, 21 de julho de 2007

DINDINHA-LUA

DINDINHA-LUA

__ “A bênção, Dindinha-Lua!
A bênção, Dindinha-Lua!”

E a lua vinha por trás da serra
redonda e branca como uma roda
de andor de carro de procissão...
Lírios choviam por sobre a terra...
Ficava tudo branco... branquinho...
telhados... casas...torres...caminho...
Ficava tudo como algodão...

E a meninada corria à rua,
gritando todos , em profusão,
olhos erguidos, erguida a mão:
__ “A bênção, Dindinha-Lua!
A bênção, dindinha-Lua!”

E a lua branca, num grande véu,
Velhinha boa, subia o céu...

__Dindinha-Lua, dá-me um vestido!...
__Dindinha-Lua, dá-me um dinheiro!
Cada menino tinha um pedido,
cada um queria pedir primeiro...

Meus amiguinhos! Que longe vão!
Que doce e grata recordação!
________

E ah! Quantas vezes, hoje, no outono
da minha vida, nesse abandono
de alma que punge desolador,
se vejo a lua nascer da serra,
redonda e branca como uma roda
de andor de carro de procissão,
sinto um aperto no coração.
E erguendo os olhos ao céu, sozinho,
digo a mim mesmo, muito baixinho,
muito comigo, cheio de ardor:

__Dindinha-Lua, dá-me um carinho!
__Dindinha-Lua, dá-me um amor!

Adelmar Tavares / Noite Cheia de Estrelas (1925-28)
/ Poesias Completas -Nova Edição .1958.