“Foi no dia seguinte
que entrando em casa
viu a maçã solta sobre a mesa.
Era uma maçã vermelha,
de casca lisa e resistente.
Pegou a maçã com as duas mãos:
era fresca e pesada.
Colocou-a de novo sobre a mesa
para vê-la como antes.
Era como se visse
a fotografia de uma maçã
no espaço vazio.
Depois de examiná-la,
de revirá-la,
de ver como nunca vira
a sua redondez e sua cor escarlate
__ então devagar,
deu-lhe uma mordida.
E, oh Deus,
como se fosse a maçã
proibida do paraíso,
mas que ela agora
já conhecesse o bem,
e não só o mal como antes.
Ao contrário de Eva,
ao morder a maçã
entrava no paraíso.
Só deu uma mordida
e depositou a maçã na mesa.
Porque alguma coisa desconhecida
estava suavemente acontecendo.
Era o começo __
de um estado de graça.”
“Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres.”
Clarice Lispector / N. Fronteira, 1980
"No fundo de tudo há a aleluia." (Clarice Lispector)