"No fundo de tudo há a aleluia." (Clarice Lispector)

sábado, 6 de dezembro de 2008

O Poeta



O poeta faz peraltices com as palavras,
espera a pedra florir,
gosta mais do vazio do que do cheio,
vê até mesmo a cor do vento.
É um poeta capaz
de atravessar um rio inventado,
de fotografar o som,
muito capaz também
de derreter o sol,
colocando no final da tarde
um ponto inicial.
Um poeta que,
para chegar às margens do poema:
Desinventa objetos.
O pente, por exemplo.
Dar ao pente
função de não pentear.
Até que ele fique
à disposição de ser
uma begônia.
Ou uma gravanha" .


Manuel de Barros 1993
Gravanha = folha de pinheiro seco

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