Eu acho que...
Ângela.
_Está amanhecendo: ouço galos.
Eu estou amanhecendo.
_O resto é a implícita tragédia do homem _ a minha e a sua?
O único jeito é solidarizar-se?
Mas “solidariedade” contém eu sei a palavra “só".
[............... ......... ,então o Autor diz:]
_Quanto a mim também me distancio de mim.
Se a voz de Deus se manifesta no silêncio, eu também me calo silencioso.
Adeus.
Recuo meu olhar minha câmera e Ângela vai ficando pequena,
pequena, menor _ até que a perco de vista.
E agora sou obrigado a me interromper
porque Ângela interrompeu a vida indo para a terra.
Mas não a terra em que se é enterrado
e sim a terra em que se revive.
Com chuva abundante nas florestas
e o sussurro das ventanias.
Quanto a mim, estou. Sim.
“Eu... eu... não. Não posso acabar.”
Eu acho que...
(Um sopro de vida: pulsações / Clarice Lispector. _Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978.)
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